Por Dr. Jorge Sanchez 

Nos últimos anos, o mercado tem passado por uma profunda transformação — não apenas tecnológica, mas cultural. A sociedade exige cada vez mais das organizações: transparência, responsabilidade, coerência entre o que se diz e o que se faz.

Neste cenário, compliance deixou de ser um diferencial para se tornar um requisito mínimo para a existência de relações duradouras. Trata-se de um novo contrato de confiança entre empresas, governos, consumidores e investidores.

A crescente complexidade regulatória, o avanço de pautas ESG, a disseminação da inteligência artificial e a demanda por decisões ágeis e responsáveis tornaram a gestão da conformidade uma prioridade estratégica. Já não basta estar de acordo com a lei — é preciso demonstrar integridade em todos os níveis.

O mercado não perdoa incoerência

Organizações que subestimam riscos reputacionais, ignoram a governança ética ou tratam compliance como uma formalidade tendem a comprometer algo cada vez mais valioso: a licença social para operar.

Em contrapartida, empresas que estruturam políticas claras, promovem ambientes de denúncia seguros, investem em educação contínua e integram o compliance à tomada de decisão não apenas protegem seus ativos — elas ganham vantagem competitiva.

O futuro exige maturidade ética

Segundo o World Economic Forum, até 2027 quase metade das competências exigidas no ambiente de trabalho serão novas. Entre elas, destaca-se uma que nem sempre está nos manuais técnicos: a capacidade de tomar decisões éticas diante da ambiguidade.

É essa maturidade — coletiva e institucional — que o compliance ajuda a construir. E é ela que permitirá às organizações navegar com solidez por um cenário regulatório em constante movimento, marcado por temas como:

– Proteção de dados e privacidade;

– Inteligência artificial e responsabilidade algorítmica;

– Contratações públicas com novas exigências de integridade;

– Cadeias produtivas sustentáveis e due diligence;

 – Pressões por diversidade, inclusão e governança transparente.

 Conformidade não é imobilismo

Há quem veja o compliance como um entrave à inovação. Mas, na verdade, ele é o que permite inovar com segurança. Ao estabelecer balizas claras, o compliance oferece às lideranças a confiança necessária para tomar riscos conscientes — e não improvisados.

No fim, o que está em jogo não é apenas a proteção jurídica. É a construção de um modelo de negócio que seja, ao mesmo tempo, eficiente, ético e adaptável.

O mercado mudou. E com ele, o sentido de responsabilidade nas organizações.

Compliance é, hoje, uma linguagem de futuro — e a gramática da confiança.

 Sobre o autor:

Dr. Jorge Sanchez – Presidente da Sanchez & Sanchez Sociedade de Advogados