Por Dr. Rafael Barioni

O Brasil e o mundo sofrem com os impactos da pandemia em decorrência do Covid-19. Mas com a pandemia também surgem novos panoramas, especialmente a partir do isolamento social a que as pessoas foram impostas. Seja em casa, ou no trabalho remoto, florescem novos desafios. A distância gera insegurança, ansiedade e o medo. Mas este novo cenário converge, de forma positiva, para mudanças de valores, de hábitos de consumo, e até mesmo de acesso à cultura e entretenimento.

Coisas simples passam a ser valorizadas. Em família, aquele esperado momento de integração, que estava aguardando uma oportunidade de ócio, ou simplesmente um instante sem a internet, faz surgir comportamentos de intensa aproximação e integração, através de atos simples como organização de armários, gavetas; noites de jogos; ajustes na casa, como pendurar aquele quadro esquecido; trocar a lâmpada que estava queimada; promover aquela mudança de móveis entre cômodos. Veja que temos a oportunidade de retomar contato com antigos amigos, aqueles da escola primária ou da graduação, de modo virtual, evidentemente.

Segundo o escritor e jornalista Charles Duhigg, no seu livro “O Poder do Hábito”, percebemos que a melhor forma de criar novos hábitos é entender primeiramente como eles funcionam. De acordo com as pesquisas científicas apresentadas por Duhigg: “hábitos são mecanismos naturais que servem para que o cérebro poupe esforço com as atividades mais rotineiras. Uma vez constituído, um hábito será sempre algo a ser executado sem que o indivíduo precise pensar a respeito”.
É exatamente isso que está acontecendo conosco; estamos resgatando a essência de nós, velhos (e saudáveis) hábitos, que jamais esquecemos, “como andar de bicicleta”.

Mas também há o novo! Mudanças de hábitos de consumo também ganham relevância, a começar pela forma como fazemos as compras agora, ou seja, pelo e-commerce, que nunca foi tão essencial em nossas vidas como hoje. Potencializado pelo fechamento dos shoppings centers e lojas de rua, sem sair de casa, ficamos na dependência das entregas realizadas por “agentes virtuais”, os aplicativos e startups, que começam a ganhar destaque em nossas vidas. E por este motivo, ícones que não estavam ainda aderentes ao mercado digital estão fechando suas portas, e alguns estão descobrindo de forma rápida, sofrida, mas por que não próspera (para o futuro) este novo caminho.

Temos ainda diante de nós mudanças culturais sendo processadas em velocidade inédita. Nunca esteve tão forte e foi tão rápida a adequação forçada ao ensino à distância (EAD); as palestras virtuais (Webinar), as “Lives”. O consumo de conteúdo digital, que já vinha crescendo imensamente, ganha agora mais uma causa para seu crescimento exponencial. Netflix, YouTube, Instagram, Facebook, TikTok, Pinterest disputam a atenção de todos.

E para quem ainda não entendeu o movimento, pasmem quanto a grandiosidade da situação no ato de observar que, de modo alegórico e representativo, a logo do Mercado Livre mudou. Antes era um aperto de mãos, e agora consta um toque de cotovelos!

Após toda esta enérgica mudança (ainda em curso), a única certeza que fica é a de que alguns hábitos nunca mais voltarão a ser como eram antes; e que conceitos como disrupção e exponencialidade foram devidamente incorporados em nosso dia a dia; e que a tecnologia, mais do que uma ameaça, nos apresenta novos caminhos para a resolução de nossas necessidades. O desafio agora passa a ser identificar as oportunidades que estão surgindo diariamente aos nossos olhos!

Sobre o autor:

Dr. Rafael Barioni, graduado em Ciências Jurídicas pela Faculdade de Direito de França, Gestão Financeira e Ciências Contábeis pelo Centro Universitário Moura Lacerda de Ribeirão Preto, pós graduando em Jurimetria aplicada ao Direito pela Unyleya de Brasília, sócio do Escritório Sanchez & Sanchez Sociedade de Advogados, presidente da Comissão de Direito Digital, Internet e Tecnologia Jurídica da OAB/RP, membro da Comissão de Direito Digital da OAB/SP e representante local da Associação Brasileira de LawTechs e LegalTechs. Colunista do Portal AdvJus.